LI E GOSTEI! 24/25

 


2024/2025

“Poema para Galileu”

de António Gedeão

 

       Breve apontamento sobre António Gedeão

Rómulo Vasco da Gama Carvalho, conhecido pelo seu pseudónimo literário António Gedeão, foi um professor e poeta português, que durante a sua vida escreveu diversos poemas maravilhosos, muitos sobre a sua área de ensino, a Física e a Química.

 

       “Poema para Galileu”

Entre os vários poemas magníficos que escreveu, encontramos um inspirado em Galileu Galilei (1564-1642), um astrónomo, físico e engenheiro que é conhecido como “pai da ciência moderna”. Neste poema, António Gedeão indica várias referências da vida de Galileu e do seu legado, enquanto afirma o quanto admira o seu trabalho na ciência:

https://www.citador.pt/poemas/poema-para-galileo-antonio-gedeao

 

       Análise do “Poema para Galileu” (referências da vida de Galileu, das suas descobertas, entre outros):


Verso 1 - No início do poema, António Gedeão refere-se a Galileu como “pisano”, pois este morava na cidade de Pisa, em Itália;

Versos 2-4 - Quando o autor diz” … aquele teu retrato que toda a gente conhece, em que a tua bela cabeça desabrocha e floresce sobre um modesto cabeção de pano. Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da tua velha Florença.”, refere-se ao retrato de Galileu, que está exposto na “Galleria degi Uffizi”, em Florença;

Versos 5-8 - Logo em seguida, o autor refere, entre parênteses “Não, não, Galileu! Eu não disse Santo Ofício, Disse Galeria dos Ofícios.”, brincando com o facto de que Galileu foi julgado pelo Santo Ofício, ou Inquisição, por acharem que o seu modelo heliocêntrico, entre outras teorias, era falso;

Versos 9-12 -  Depois deste trocadilho, Gedeão fala sobre alguns lugares históricos e importantes de Florença, como a Ponte Veccio ou o rio Arno, enquanto questiona se Galileu se lembra de lá estar;


Versos 13-18 -
Em seguida, o poeta afirma que em Florença, está guardado um dedo de Galileu (“Olha. Sabes? Lá em Florença está guardado um dedo da tua mão direita num relicário. Palavra de honra que está!”). Este dedo foi removido do cadáver do astrónomo em 1737, quando o seu corpo estava a ser transladado para a Basílica de Santa Croce, em Florença. Depois disso, esta parte do seu corpo passou por vários colecionadores, até voltar para a igreja, onde está exposto nos dias que correm;

Versos 19-32 - Nos versos seguintes, António Gedeão expressa a sua gratidão pela inteligência e pelas descobertas de Galileu, principalmente sobre o esclarecimento que ele fez acerca de uma teoria em que muitas pessoas acreditavam, mas que está errada. No excerto “Eu, e quantos milhões de homens como eu a quem tu esclareceste, ia jurar- que disparate, Galileu! – e jurava a pés juntos a apostava a cabeça sem a menos hesitação- que os corpos caem tanto mais depressa quanto mais pesados são. Pois não é evidente, Galileu? Quem acredita que um penedo caia com a mesma rapidez que um botão de camisa ou que um seixo da praia?”, António Gedeão refere-se ao episódio em que Galileu provou que a teoria de Aristóteles (que afirmava que os objetos de massa mais pesada caíam mais rápido em direção ao solo do que os objetos de massa mais leve) estava incorreta, pois afinal, os objetos chegam ao chão ao mesmo tempo;


Versos 33-61 -
Seguidamente, Gedeão fala de quando Galileu teve de jurar (“E juraste que nunca mais repetirias nem a ti mesmo, na própria intimidade do teu pensamento, livre e calma, aquelas abomináveis heresias que ensinavas e escrevias…”), á frente de vários homens considerados sábios (” … friso de homens doutros hirtos, de toga e de capelo…”) que nunca mais voltaria a estudar sobre aqueles assuntos, visto que aos olhos daqueles homens, Galileu estava profundamente enganado. O autor indica também o facto de que os sábios estavam espantados, estupefactos, com o facto de um homem tão novo como Galileu já achar que sabia tantas coisas, e por isso consideravam-no perigoso;

Versos 62-83 - Nos versos finais, o autor, enquanto refere novamente algumas descobertas da ciência (“… à razão de trinta quilómetros por segundo.”), fala sobre Galileu, sobre como este homem nunca desistiu da s suas teorias, e sobre como no final era ele que estava certo, e não os homens “… do alto inacessível das suas alturas, …”, aqueles que julgaram Galileu em vês de aprenderem com ele.

 

       Opinião sobre o poema “Poema para Galileu”:

Eu gostei muito de ler este poema. António Gedeão utilizou do mais variado vocabulário para falar sobre um homem que mudou a perceção do mundo nas Ciências, um homem que, mesmo depois de ter sido julgado pela Inquisição e proibido de espalhar os seus conhecimentos, considerados falsos, acreditou na credibilidade das suas pesquisas, e continuou a estudar. Além de ter ficado deliciada com a escrita de Gedeão, com a maneira como ele “conversa” com Galileu, utilizando múltiplos recursos expressivos, que fazem toda a diferença no texto, deixando-o muito mais apelativo, passei a conhecer várias curiosidades sobre o astrónomo de que nunca tinha ouvido falar, de uma maneira organizada e muito prazerosa de se ler. Apesar de ser um poema de difícil compreensão, e de termos de o ler algumas vezes para compreender e absorver bem o seu significado, recomendo a leitura do mesmo a todos, pois considero este poema maravilhoso, e todos deviam ter a oportunidade de se apaixonarem pela escrita de António Gedeão como eu me apaixonei.

 

Maria Leonor Silva Lopes, n.º 16, 9.ºC

31/03/2025



“No moinho”, in: Contos, de Eça de Queirós.


Venho partilhar convosco as minhas impressões de leitura do conto “No moinho”, presente no livro “Contos”, de Eça de Queirós.

A ação deste conto desenrola-se em torno de Maria da Piedade, considerada uma “senhora-modelo” em toda a vila, devido à sua beleza delicada e ao seu doce brilho. Vivia numa casa ao fim da estrada, onde “reinava” a doença e a tristeza. Para fugir aos problemas familiares, tinha-se casado, muito cedo, com João Coutinho e este, embora já doente, pretendia mudar a sua vida.

Todos os dias, tomava conta do seu marido, que sofria de um problema na coluna, e dos seus filhos, que cresciam cheios de tumores e feridas.

Em determinada altura, ela recebeu uma carta de um senhor chamado Adrião, que era primo do seu marido, e também um homem muito célebre e famoso em toda a vila, pois escrevia vários romances. Maria ficou aterrada com a posterior visita deste, pois teria de mudar horários, rotinas, arrumar mais quartos, mas foi com grande alívio que ele se instalou numa pequena estalagem, revelando, assim, ser um homem muito simples.

Adrião queria vender uma propriedade rural, mas não arranjava comprador, pedindo, então, a Maria que fosse com ele, por entender dessas coisas. Nesse dia, ela ouviu o primeiro elogio de um homem e, consequentemente, começou a olhá-lo com outros olhos.

No dia seguinte, Maria pretendeu mostrar-lhe o moinho que ela possuía. Esta, cansada, sentou-se, e Adrião fez uma comparação do moinho com o paraíso onde imaginava os dois juntos. Maria corou e Adrião abraçou-a, começando, então, a bela senhora a considerar a sua vida de enfermeira como sendo um fardo injusto...

Quando Adrião foi embora, ela ficou totalmente apaixonada por ele, imaginando uma nova vida e começando a ler romances que ele mesmo escrevia. Maria começa a sentir “nojo” dos medicamentos que dava aos filhos e ao marido. Foi, nesse momento, que ela partiu para reencontrar Adrião, abandonando a sua família, que tanto precisava dela para sobreviver.

Eu gostei bastante deste conto, pois o autor consegue escrever de uma forma muito bonita, real e repleta de adjetivos o que espelha perfeitamente o que as personagens estão a viver e a sentir, o que nos leva a entrar dentro da história e a compreender ainda mais o seu contexto. O autor utiliza muitos recursos expressivos, que eu adoro! Os que mais identifiquei foram a comparação e a metáfora, quando o autor, por exemplo, compara a Maria da Piedade a uma “zelosa enfermeira”, e a adjetivação, mais presente na descrição de cenários e personagens.

Neste conto, podemos observar a diferença que uma pessoa pode fazer na vida de outra, tanto pelo nível positivo, como pelo negativo, sendo este o caso da Maria de Piedade e de Adrião. Porém, também considerei que este conto teve um final muito triste e injusto, pois Maria da Piedade partiu para uma nova vida, abandonando a sua família, que tanto precisava dela.

Convido-vos a ler este conto e a partilharem comigo a vossa opinião!

 Letícia Silva, nº 11, 9º C

25/03/2025

 "Madalena", in: Bichos, de Miguel Torga.

Venho partilhar as minhas impressões de leitura sobre um conto do livro “Bichos”, da autoria de Miguel Torga, intitulado “Madalena”.

Este conto tem como objetivo levar-nos a refletir sobre a condição humana, abordando temas como o sofrimento, a solidão e a luta pela sobrevivência.

A ação desenrola-se à volta de uma jovem chamada Madalena, que vive numa aldeia e que se encontra grávida, porém não contara a ninguém e sente-se magoada e usada pelo seu companheiro, Armindo, que não compartilha a mesma opinião que ela acerca de se casarem. Quando sente que está prestes a ter o seu filho, Madalena desloca-se para uma serra íngreme, solitária e quase impossível de enfrentar, o que se assemelha aos seus sentimentos naquele momento, para que o povo não a visse naquele estado, pois preferia sofrer do que cair nas bocas do povo, naquele momento de fraqueza.

O final deste percurso é marcado por um acontecimento trágico, que não vou desvendar. Para o saberem, terão de ler este conto.

Confesso que este texto me fez refletir bastante, porque me apercebi da desvalorização que as mulheres tinham, naquela época, relativamente aos homens, pois elas podiam ser usadas e descartadas quando os homens queriam e, mesmo assim, continuar a ser as mal vistas pela sociedade.

A parte de que mais gostei foi a reação de Madalena relativamente aos comportamentos de Armindo, porque, ao contrário, de uma percentagem significativa das mulheres, não teve medo de se separar e enfrentar as possibilidades de criar um filho sozinha, mesmo sabendo que poderia ser julgada.

Por este conto ser relativamente pequeno, todas as frases têm bastante valor a nível da reflexão, porém vou apenas citar uma: “Dera um tropeção, é certo, mas em seguida conseguira esconder a nódoa dos olhos do mundo - a nódoa maior que pode sujar uma mulher.” Esta frase fez-me pensar bastante, porque mostra as expectativas sociais impostas às mulheres e as suas dificuldades em manter respeito após as falhas.

São apresentados também inúmeros recursos expressivos que enriquecem  a linguagem e potenciam as emoções e os sentimentos. Como exemplo, possa apresentar a metáfora usada na seguinte frase: ”E ela, Madalena, não passava de uma pobre mulher, que ia ali aquele ermo excomungado, trespassadinha, já sem forças para mais, com o maldito filho dentro da barriga aos coices.”, que nos transmite, de forma vigorosa, a sensação de sofrimento da personagem.

A linguagem deste texto é de bastante difícil compreensão, fazendo com que o leitor tenha que o reler bastantes vezes para que consiga perceber, mas, nem por isso, o leitor deixe de estar preso à narrativa.

 

Margarida Sabença, 9.º D

17/03/2025


"O Alma-Grande”in: Novos Contos da Montanha, de Miguel Torga

    

“O Alma-Grande” é um dos contos que faz parte do livro “Novos Contos da Montanha”, de Miguel Torga, conto que fala sobre a história de um homem que, ao longo da vida, tenta alcançar uma espécie de grandeza espiritual.

     “O Alma-Grande” é uma personagem inspirada na lenda do “abafador”, figura que, no tempo dos Cristãos Novos, tinha a incumbência de abreviar a vida dos judeus moribundos, a fim de evitar que confessassem seu credo na hora da morte. Logo no início da narrativa, esta personagem é apresentada de modo a criar uma imagem sinistra. Por vezes, o “Alma-Grande” não era compreendido pelas pessoas, então, acabava por se isolar. Através das suas experiências e reflexões, a personagem enfrentava dificuldades e desafios. O conto é marcado por uma profunda reflexão sobre a existência humana e o desejo de alcançar algo mais elevado, tanto no mundo espiritual como emocional.

     Ao longo do conto, a personagem pergunta-se a si mesmo sobre o verdadeiro significado de “ser grande” ou como conseguir chegar a um patamar elevado.

     A história começa com um rapaz chamado Abel e com o seu pai Isaac. Num dia muito triste, o jovem, sem compreender muito bem para o que ia, teve de subir a colina onde ficava o “Alma Grande”. Ao chegar, o pequeno Abel trepou a ladeira e chamou pelo “Alma-Grande”. De seguida, este apareceu à porta e perguntou a Isaac o que se passava com o seu pai, pois o rapaz encontrava-se com uma cara muito angustiante. Pela rua abaixo, só o vento falava. O pequeno Abel caminhava, nervoso, inquieto, com pressentimentos confusos, que se recusavam a sair-lhe do pensamento.

     Em casa, havia lágrimas desde a soleira da porta. Mas a entrada do “Alma-Grande" secou tudo. “Atrás dos seus passos lentos e pesados, pelo corredor ficava uma angústia calada, com a respiração suspensa.”. Lia respondeu ao seu filho com duas lágrimas silenciosas pela cara abaixo. Lá dentro, colado à cama e alagado pela transpiração, o Isaac parecia ter chegado ao fim. Branco, com dois olhos perdidos no fundo da cara, parecia esperar a ordem de fechar os olhos.  

     Tinha adoecido havia quinze dias. Um febrão tal que o Dr. Samuel desanimou. Mandaram chamar o “Alma-Grande” e, quando este entrou, o Isaac estava no meio de um combate contra aquele febrão que nunca mais o largava.  

     Bem, deixo-vos neste ponto da narrativa, com uma pergunta. O que irá acontecer a Isaac e como é que o “Alma-Grande” se vai sentir em relação a isso?

     A minha frase favorita foi: “Atrás dos seus passos lentos e pesados, pelo corredor ficava uma angústia calada, com a respiração suspensa”. Esta frase diz-nos que, naquele corredor, ficava o medo, a incerteza, o receio do que poderia vir a acontecer com o pobre Isaac.

     Encontrei alguns recursos expressivos que muito contribuíram para a riqueza e expressividade da linguagem, contudo, irei deixar aqui os que mais me impressionaram: “Alto, mal encarado, de nariz adunco”. Esta adjetivação deixa transparecer sentimentos de temor; “o outro, o velho, a aceitar aquele destino de abreviar a morte como um rio aceita o seu movimento.” Esta comparação expressa a ideia de aceitar o termo da vida com naturalidade e conformismo.

     Convido-vos à leitura deste conto que a ninguém deixa indiferente.

Eduarda Santos, nº4, 9ºC

10/03/2025


"Nero", in: Bichos, de Miguel Torga

       Hoje venho partilhar as minhas impressões de leitura do conto "Nero", que faz parte do livro “Bichos”, da autoria de Miguel Torga.

      Este conto gira em torno da vida de Nero, um cão de caça, desde a sua juventude até à morte. Ao longo da história, ficamos a conhecer a relação de Nero com a família que o acolheu, inicialmente constituída, apenas, por dois senhores de idade, que falavam sempre do seu verdadeiro “dono”, que se encontrava ausente. Até que, quando ele finalmente aparece, começamos a ver, realmente, o desenvolver da sua história.

     Através do ponto de vista do cão, o autor explora temas como a lealdade e o sentido da vida, revelando a ligação única entre humanos e animais. Nero é apresentado como um animal cheio de energia e dedicação que adora caçar. No entanto, com o passar dos anos, torna-se velho e frágil, até que, no final, morre, mas com dignidade.

      Eu gostei muito deste conto, porque transmite uma mensagem universal e emocionante sobre a passagem do tempo e a importância dos laços que criamos. A forma como o autor retrata a relação de Nero com a sua família faz-nos refletir sobre como as conexões genuínas, mesmo entre humanos e animais, podem trazer significado às nossas vidas. Uma expressão da qual gostei foi esta: “Por uma fresta das pestanas espreitou-lhe a cara. Chorava. Desceu novamente as pálpebras, feliz.” Esta frase mostra que, mesmo nos seus últimos momentos, Nero sentia-se em paz ao lado da sua dona, certo do amor que esta lhe dedicava. Além disso, o autor utiliza uma linguagem rica e expressiva, como, por exemplo, na personificação presente na frase “os montes de S. Domingos, lá longe, pareciam ter já saudade das suas patas seguras e delicadas”. Aqui, os montes são descritos como se fossem capazes de sentir saudade, atribuindo-lhes uma qualidade humana e reforçando o impacto que Nero teve no espaço à sua volta. Este recurso expressivo sublinha a ligação entre o cão e a natureza. Confesso que achei o final um pouco triste, mas também reconfortante. Mostra como a vida de Nero foi marcada por amor e lealdade, não apenas para com os seus donos, mas também para si próprio. Viveu intensamente e partiu sabendo que teve um papel importante.

     Recomendo a leitura deste conto e do livro “Bichos”, que nos ensina a valorizar os momentos e as relações, tanto com as pessoas como com os animais que nos rodeiam.

 

Inês Lourenço, n.º 12, 9.ºD

25/02/2025





Fala do homem nascido

Venho da terra assombrada,
do ventre de minha mãe;
não pretendo roubar nada
nem fazer mal a ninguém.

Só quero o que me é devido
por me trazerem aqui,
que eu nem sequer fui ouvido
no ato de que nasci.

Trago boca para comer
e olhos para desejar.
Com licença, quero passar,
tenho pressa de viver.


Com licença! Com licença!
Que a vida é água a correr.
Venho do fundo do tempo;
não tenho tempo a perder.

Minha barca aparelhada
solta o pano rumo ao norte;
meu desejo é passaporte
para a fronteira fechada.
Não há ventos que não prestem
nem marés que não convenham,
nem forças que me molestem,
correntes que me detenham.

Quero eu e a Natureza,
que a Natureza sou eu,
e as forças da Natureza
nunca ninguém as venceu.

Com licença! Com licença!
Que a barca se fez ao mar.
Não há poder que me vença.
Mesmo morto hei-de passar.
Com licença! Com licença!
Com rumo à estrela polar.

               António Gedeão

        Li vários poemas de António Gedeão e gostei de todos, quer pelo tema que cada um foca quer pela forma como o escritor articula a Literatura com as Ciências Físico-Químicas, a base da sua formação académica. Contudo, houve um poema que chamou particularmente, a minha atenção – “Fala do homem nascido”, pois é um poema forte que nos leva a refletir sobre a nossa vida, a nossa existência.

     Este poema é uma reflexão profunda sobre a existência e as lutas do ser humano ao longo da vida, a complexidade da vida humana. Ele aborda temas existenciais, como o nascimento, a luta pela sobrevivência, a procura pelo conhecimento, a brevidade da vida, a luta contra o tempo e o confronto com a morte.

     António Gedeão constrói este poema com a sua visão filosófica e científica e apresenta o homem como um ser que, apesar de ser vulnerável, procura constantemente entender o seu lugar no mundo, enfrentando as suas contradições internas e as dificuldades externas.

     O poema faz-nos pensar sobre a condição humana, sobre os nossos próprios desafios e sobre como, apesar de tudo, seguimos em frente. Há, ainda, uma reflexão sobre o contraste entre os sonhos e as aspirações do ser humano e a dura realidade que ele enfrenta. O poema também toca na inevitabilidade da morte, mas essa ideia não é tratada com desespero, mas sim como uma consciência profunda de que a morte faz parte da vida.

Rafaela Guedes, nº19, 9ºC

17/02/2025



 “O meu de laranja lima”, de José Mauro de Vasconcelos

 

         Venho falar um pouco do Livro “O meu pé de laranja lima”, de José Mauro de Vasconcelos, e revelar a minha opinião quanto ao mesmo.

       Esta obra retrata a vida de um menino pobre, Zezé, que, devido à sua situação económica, começou desde muito pequeno a libertar-se da família e a aventurar-se pelas ruas de Bangu, um bairro na periferia do Rio de Janeiro. Devido às traquinices que fazia no bairro, diziam que “ele tinha o diabo no corpo”. Porém, havia uma razão por detrás do carácter endiabrado do menino, que era carente de afeto e não tinha ninguém que passasse tempo com ele. O motivo era o facto de os seus pais e familiares se preocuparem mais com a sobrevivência, naquele que era um contexto tão difícil. Por conta disso, não tinham tempo nem vontade de educar o menino. Para piorar a situação, batiam-lhe cada vez que fazia alguma asneira. E foi aqui que entreviu o pé de laranja lima, presente no título do livro, uma árvore que servia como o seu refúgio face à realidade, à qual ele confessava o que sentia e revelava as suas preocupações.

Um português, Manuel Valadares, veio alegrar a vida do menino. Este acabou por se tornar o seu melhor amigo e Zezé considerou-o como um pai para ele. O Portuga (apelido que Zezé lhe deu), era um homem rico e oferecia diversas coisas ao menino, contudo, não foi isso que fez com que Zezé gostasse dele, mas sim o facto de ele ter estado sempre pronto para o ajudar e lhe ter dado o amor e carinho de que qualquer criança precisa. Infelizmente, não foi assim por muito tempo, já que o mesmo acabou por falecer num acidente.

        Na minha opinião, este é um livro muito completo, transmitindo o que é a realidade de algumas pessoas, vidas difíceis. Apesar de ser escrito por um autor brasileiro, tem uma escrita acessível e com certas palavras e expressões do país que encaixam na perfeição naquele que é o contexto do livro.

        Ao longo da narrativa, encontro diversas expressões que revelam como o menino era ignorado, devido ao seu comportamento endiabrado e porque a família estava demasiado focada na situação económica. Até quando estava doente achavam que era treta conforme revela a expressão: “… Zezé está muito doente. Ela veio resmungando. – Deve ser fita de novo. Umas boas chineladas… “.

        Outra expressão que evidencia a violência traumatizante exercida sobre este menino encontra-se na parte em que a personagem está a descrever uma das várias tareias que levou do seu pai, dizendo o seguinte: “Parecia que o cinto tinha mil dedos que me acertavam em qualquer parte do corpo. “. Esta hipérbole representa a agressividade e violência imposta pelo pai, tornando a leitura bastante angustiante.

        Quanto à ilustração presente na capa, penso que não está representada de acordo com a realidade do livro, já que contém motivos alegres e representa a cidade de Bangu de uma forma diferente da realidade.

        Concluindo, é um livro que nos faz sofrer com a dura realidade de muitas crianças, numa idade em que apenas se deviam preocupar em sonhar e ser felizes.

Diogo Gonçalves, 9.ºD

10/02/2025


Li e Gostei do poema “Lágrima de Preta”

 
         
Escolhi este poema pelo facto de o achar muito bonito e interessante. Dá gosto lê-lo e relê-lo e fi-lo tantas vezes que quase o decorei. A partir do momento em que explorei o poema um pouco mais a fundo, consegui encontrar a crítica implícita que ele veicula. António Gedeão faz uma crítica à discriminação e ao racismo, querendo, assim, transmitir que, independentemente da cor, religião ou qualquer outro tipo de característica, todos os seres humanos são iguais, apesar das diferentes características físicas e diversas escolhas de vida. Como já disse, a crítica está subliminar, mas, examinando o poema, consegue-se perceber o porquê de ela estar lá: por haver muita discriminação e racismo neste planeta.

     Por estar bastante envolvido com a Ciência, António Gedeão, neste poema, descreve uma experiência de laboratório que tinha feito à tal lágrima de preta, bem como o seu resultado, com o objetivo de nos transmitir uma belíssima mensagem, tornando evidente a articulação entre a Literatura e as Ciências.

 

Inês Lourenço, n.º 6, 9.ºC

 

     Gostei do poema "Lágrima Preta" pela intensidade emocional que o poema transmite, pois aborda a dor e o sofrimento de forma profunda.

     O poema tem um estilo simples e transparente, o que o torna acessível, mas cheio de significado e interesse.

     A palavra “preta”, utilizada no poema, na minha opinião, é uma palavra muito forte, tem uma grande intensidade no seu significado. O título estimulou a minha curiosidade, pois o que há para dizer sobre uma lágrima de preta? Porém, no desenvolver do poema, podemos entender o que o poeta pretende transmitir. Não é por ser uma lágrima preta que poderia haver ódio nela…

 

 Maria Silva, n. º13, 9.ºC

 

     O poema “Lágrima de preta”, de António Gedeão, está relacionado com a Ciência, pois fala sobre a análise de uma lágrima, os equipamentos necessários para uma completa análise científica e, ainda, os constituintes da lágrima.

     Escolhi este poema, pois tem um significado triste e profundo, trata principalmente do racismo.

     Neste texto, António Gedeão transmite-nos que todos nós somos iguais, independentemente da nossa raça ou cor.

 Rafaela Figueiredo, n. 18, 9.ºC

3/2/2025


Histórias da Terra e do Mar - Saga

 


“Saga”, um dos contos que faz parte do livro “Histórias da Terra e do Mar”, de Sophia de Mello Breyner, fala sobre um rapaz, Hans, que morava no interior de uma ilha situada no mar do Norte, Vig, com a sua família. Ele tinha uma grande paixão e admiração pelo mar, por isso, quando ouvia o rumor marítimo, de sua casa, Hans costumava atravessar a praia e subir até ao topo do promontório, onde observava atentamente a tempestade.

Nesse dia, quando voltou a casa, foi jantar com a sua família. Sören, seu pai, era um homem alto e magro, com os olhos cor de porcelana azul. Mas nele havia algo de silencioso e reservado, triste e taciturno, desde que os seus irmãos mais novos, Gustav e Niels, tinham morrido num naufrágio de um veleiro que lhe pertencia. Depois disso, ele vendeu todos os seus barcos e comprou terras no interior de Vig. Desde então, dizia-se que nunca mais tinha olhado para o mar. No entanto, Hans sonhava em tornar-se marinheiro, como os seus tios e avós. Não para apenas navegar entre as ilhas e a costa do Norte. Queria conhecer o mundo, viajar de terra em terra e descobrir coisas novas. Mas, nessa noite, depois do jantar, Sören disse ao seu filho que este iria estudar para Copenhague, no fim do verão, e que deveria escolher o que queria estudar. Contudo, Hans queria ser marinheiro e, apesar da insistência do pai para que ele escolhesse outra profissão, quando, em agosto, chegou a Vig um navio cargueiro inglês, Hans fugiu nele, alistado como grumete.

Durante a viagem até ao destino do cargueiro, enquanto Hans lavava o convés, inspirava a respiração marítima e sentia a elasticidade do barco, o seu equilíbrio, finalmente, sentia-se em casa. Navegaram para Sul e, ao final da tarde, chegaram a uma linda cidade, que Hans adorou. Esta parecia carregada de antigas memórias, e animavam-na vultos de pessoas, vozes e músicas.

O navio ficou vários dias no cais, a carregar e descarregar, mas foi na véspera da partida que Hans e o capitão tiveram uma furiosa discussão. Durante essa tarde, Hans estava vestido com uma pele de urso branco que encontrara no porão e, no meio de um círculo de marinheiros a bater palmas, dançava e tocava pandeireta, enquanto mais pessoas se aproximavam da festa, como se se tratasse de um circo. Quando o capitão chegou, furioso, Hans não o levou a sério, brincando com o facto de ele estar chateado. Mas, quando foram para bordo, o capitão chicoteou Hans em frente dos homens calados. Surpreendentemente, nessa madrugada, Hans fugiu do navio.

Eu gostei bastante de ler esta narrativa e da sua mensagem. Este conto mostra-nos a realidade em que vivemos, onde algumas pessoas acabam por não seguir os seus sonhos, com medo de desapontar outras pessoas, acabando por se esconder e aceitar fazer algo que não queriam, como se pode ler nesta história. No final de tudo, todo o esforço de Hans foi inútil, pois ele acaba por não voltar a Vig, à sua família, e nem sequer realiza, por muito tempo, o seu sonho de ser marinheiro.

Sophia de Mello mostra-nos que devemos seguir os nossos sonhos e não nos deixar afetar por qualquer situação que nos apareça no caminho.

Eu recomendo este livro, não só pela leitura de fácil compreensão, mas também pelas reflexões a que o texto nos conduz.

Maria Leonor Lopes, 9.º C
27/01/2025

"Contos", de Eça de Queirós

       


 Hoje venho falar do livro "Contos", de Eça de Queirós, uma obra que reúne diferentes histórias curtas deste importante autor da literatura portuguesa. Publicada em 1902, após a morte do escritor, a coletânea é um convite para mergulharmos no universo de Eça, marcado pela crítica social, pelo humor e pela habilidade de observar e retratar as complexidades humanas.

         O livro tem doze contos. Cada história, embora breve, é rica em nuances e carrega o olhar irónico e detalhista de Eça sobre temas universais, como o amor, a ganância, e o sacrifício.

         Destaco o conto "O Poeta Lírico", uma narrativa onde Eça conta a história de um jovem poeta que anseia por reconhecimento e sucesso na sociedade. Ele acredita que o seu talento poético poderá levá-lo fama e ao respeito. No entanto, ao inserir-se nos círculos da elite intelectual da sociedade portuguesa, descobre que muitos dos seus membros são superficiais e mais preocupados com a aparência do que com a verdadeira arte, sendo esta frequentemente sacrificada em prol da fama.

            À medida que tenta integrar-se, o poeta apercebe-se de que a sua arte está a ser desvirtuada e utilizada como um meio para alcançar status social. Esta experiência leva-o a refletir sobre a hipocrisia da sociedade e a importância de manter a autenticidade na sua expressão artística. No final, o conto destaca a luta entre a busca por reconhecimento e a fidelidade à verdadeira essência da arte.

       Do ponto de vista literário, "Contos" apresenta uma faceta diferente de Eça, mais direta, em contraste com as suas grandes obras romanescas. Nos contos, o autor condensa sua narrativa sem perder o impacto crítico e reflexivo. A linguagem é elegante, mas acessível, revelando uma preocupação em cativar tanto o leitor comum quanto o mais complexo.

      Em termos de crítica social, o livro não dececiona. Eça expõe as hipocrisias da sociedade portuguesa da época e as desigualdades entre classes sociais, muitas vezes utilizando situações aparentemente simples para levantar questões profundas.

       "Contos" sintetiza o brilhantismo de Eça de Queirós em histórias curtas, revelando sua crítica social e estilo marcante, sendo indispensável para entender a literatura portuguesa da sua época.

        Para terminar deixo, assim, a provocação: até que ponto as reflexões apresentadas nesses contos ainda dialogam com a nossa sociedade atual? Afinal, a ganância, a hipocrisia e as desigualdades de que Eça falava continuam tão presentes hoje quanto na sua época?

 

Diogo Morgado, 9ºD

Os Lusíadas para gente nova”, dVasco Graça Moura


Recentemente estive a ler o livro “Os Lusíadas para gente nova”, do escritor Vasco Graça Moura, publicado pela editora Gradiva. O autor pensou este livro para simplificar a linguagem e o conteúdo da versão original, procurando adaptá-la às pessoas mais novas que têm curiosidade de ler. Contudo, não deixou de respeitar o canto original do livro “Os Lusíadas”.

Este livro está dividido em 10 “cantos” e cada um deles fala sobre as aventuras de Luís de Camões e a embarcação de Vasco da Gama. E agora vou falar um pouco sobre este livro, começando pelo início.

“Sabemos Muito Pouco de Camões” é o título do texto introdutório deste livro, que apresenta o assunto e a forma da obra, dividida em Cantos, explica o sentido de epopeia, o uso da mitologia, a influência das obras clássicas e refere que não conhecemos muito bem Camões, pois nada sabemos sobre os seus estudos, a data do seu nascimento ainda se discute, bem como vários outros aspetos da sua vida.

            No “Canto Primeiro”, é narrado que os marinheiros portugueses, com tudo já preparado, partiram por mares nunca antes navegados, passando por terras desconhecidas e, em guerras e perigos, lá vai Vasco da Gama a navegar com seus companheiros, com o objectivo de chegarem á Índia por mar. Surpreendidos com este acontecimento, os Deuses reúnem-se no Olimpo, para resolverem problemas futuros, pois preocupa-os a nova expedição dos Portugueses. Na reunião, uns são a favor dos portugueses; outros são contra, pois tinham medo que os portugueses conseguissem muito poder. Como a maioria concordou, os marinheiros prosseguiram viagem. Quando chegaram perto de Moçambique, terra que eles desconheciam, viram que era habitada e decidiram ficar lá...  Se quiserem saber mais, têm de ler este livro.

De todos os Cantos, aquele de que mais gostei foi o “Canto Sexto”, pois conta-nos que, apesar de os Deuses lançarem uma tempestade tenebrosa contra os portugueses, estes chegaram à Índia. Depois de muito sofrimento, cansaço e tragédias, os corajosos marinheiros conseguiram alcançar o seu objetivo.

Vou transcrever uma expressão de que gostei:
“- Pois vens ver os segredos escondidos da natureza e do húmido elemento, a nenhum grande humano concedidos, sabe que haveis de ter o sofrimento das vidas e os navios já perdidos por causa deste grande atrevimento: Naufrágios, perdições de toda a sorte, que o menor mal de todos seja a morte!”. Esta passagem diz-nos como o Adamastor e várias pessoas faziam várias profecias sobre o Cabo das Tormentas, ameaçando que todos os que ousassem passar por aquele sítio, por serem muito fortes e corajosos, seriam castigados por sua audácia.
        Nesta obra, abundam recursos expressivos, que muito enriquecem e embelezam a linguagem e nos obrigam a refletir sobre a sua expressividade.
        No “Canto Sexto” existe uma história sobre os “Os Doze de Inglaterra”, que fala sobre doze nobres ingleses que teriam ofendido doze damas inglesas. Depois do ocorrido, as doze damas tentaram pedir ajuda a suas famílias e amigos, mas todos recusaram. Por isso, pediram auxílio ao Duque, que já conhecia o Rei João I, para as ajudar a resolver este problema, então, D. João indicou-lhes 12 cavaleiros que podiam protegê-las... e, agora, o que irá acontecer? Deixo-vos o desafio de descobrirem.
        Com este livro, fiquei a saber mais sobre as aventuras de Vasco da Gama, os perigos que passaram e sobre a obra grandiosa de Luís de Camões. Também adquiri conhecimentos sobre a mitologia grega, que achei muito interessante.

  Lara Filipa Leitão Morgado, 9ºD

13/01/2025 

“Esteiros”, de Soeiro Pereira Gomes 


“Esteiros” é o título de um dos melhores romances portugueses que alguma vez existiu. Publicado em 1941 e escrito por Soeiro Pereira Gomes, retrata a vida dos meninos que têm de se tornar homens antes do tempo.

Tem como local as margens do rio Tejo e são várias as personagens. A história é dividida em quatro partes ou, neste caso, quatro estações: outono, inverno, primavera e verão. Cada estação significa uma mudança de situação.

A primeira estação é o outono, altura em que a ação gira à volta de uma feira e do dia de Todos os Santos. Aqui, vê-se bem como as personagens têm uma boa relação umas com as outras, como convivem e como é a sua vida económica, não muito boa, por sinal.

Assim, passamos para a segunda estação, o inverno. Este foi o tempo mais complicado, pois, sem trabalho e com o frio, era a época mais difícil para as pessoas. Para piorar, vieram as cheias e faleceram bastantes cidadãos.

Acabado o frio, veio a terceira estação, a primavera. Voltava tudo ao trabalho e tentava-se recuperar das cheias e das mortes de amigos e familiares.

Iniciamos, por fim, o verão. Neste capítulo, é relatada a duríssima vida das personagens na fábrica de telhas.

No final, há uma reviravolta e um dos rapazes é preso. Para o soltarem, o mais novo deles todos vai à procura do seu pai por achar que ele consegue ajudar.

Esta história permite ao leitor refletir sobre os tempos antigos e sobre todos os meninos que precisaram de começar a trabalhar muito cedo, não tendo tido oportunidade de gozar a infância.

Neste livro, existem vários excertos marcantes, mas o meu preferido é o final da obra: “[…] e mandar para a escola aquela malta dos telhais, moços que parecem homens e nunca foram meninos.” Esta frase é muito importante, pois dá a entender que o livro não fala só das suas personagens, mas sim de todos os meninos que, na altura, não o puderam ser de verdade.

                                                                                                                       Carolina Silva Ribeiro, 10.º F

6/1/2025

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Contos Exemplares – O Jantar do Bispo

    
      “Jantar do Bispo”, uma narrativa que faz parte do livro “Contos exemplares”, de Sophia de Mello Breyner, tem como personagem central um homem muito rico que morava numa casa grande e opulenta, na aldeia de Varzim. A família deste homem, o Dono da Casa, sempre fora a mais rica e prestigiada da aldeia, por isso este estava habituado a ser o mais poderoso, alguém que ninguém ousava contrariar.

Mas surgiu um problema para este homem: chegou à aldeia um novo padre, jovem e com as roupas rasgadas, que tinha largado a riqueza para morar naquele sítio. Varzim sempre fora uma aldeia muito pobre, mas este padre não aceitava esta condição como os outros, que nada faziam para a melhorar, ele dava a sua comida aos leprosos e o seu dinheiro aos velhos pobres, vivia de nada e dava o seu pouco aos outros.

O problema era que o novo Padre de Varzim apontava o dedo ao Dono da Casa, um homem tão rico que não fazia nada para melhorar a situação daquelas pessoas, não dava esmolas nem comida, guardando tudo só para ele.

O Dono da Casa não estava habituado a lutar, apenas a mandar e, como não queria perder o seu poder para tamanha pessoa, um novo padre, decidiu fazer um jantar na sua casa, convidar o Bispo para lhe falar sobre o Padre de Varzim e pedir que o mudasse de freguesia.

Por outro lado, o Bispo só tinha aceitado aquele convite para pedir ao Dono da Casa 100 contos, com o fim de restaurar o teto de uma linda igreja, mesmo estando um pouco apreensivo devido à avultada quantia. O Bispo chegou à imponente casa e, enquanto cumprimentava o Dono da Casa, ouviu-se um grande estrondo lá fora. Um carro tinha batido no portão e dele saiu um homem grande e imponente, que foi convidado a jantar devido à chuvada que se aproximava.

Como será que o jantar vai correr? E a conversa entre o Dono da Casa e o Bispo?

Apesar de este conto ter uma moral que requer algum esforço de compreensão e de ser necessária muita atenção para o ler, eu gostei muito de o explorar e refletir sobre a sua pertinente mensagem. Este livro está repleto de expressões de uma ironia única, com o objetivo de criticar a sociedade em que vivemos, como o pensamento do dono da Casa em relação ao seu problema com o padre: “Não estava habituado a lutar, estava só habituado a mandar. Outros por ele tinham lutado e vencido.”. Isto mostra-nos que o Dono da Casa tentava convencer-se de que era demasiado poderoso para confrontar o padre, mas, na verdade, ele achava que os outros tinham de resolver as suas desavenças, dado o seu poderoso capital. Considerava que tinha a vida feita e sem preocupações porque era importante, por isso é que marcou o jantar com o Bispo, para este resolver o seu problema.

Este conto transmite uma crítica social, salientando o abuso do poder, a exploração dos mais fracos pelos mais poderosos, o egocentrismo e a desumanidade, bem como a luta entre o bem e o mal.

A literatura, muitas vezes, procura desempenhar um papel interventivo na sociedade, no sentido de a melhorar.

Maria Leonor Lopes, 9.º C


“Contos exemplares” – “O Jantar do Bispo”

     “Jantar do Bispo”, a story included in the book Contos Exemplares, by Sophia de Mello Breyner, is about a very rich man who lived in a big and luxurious house in a village called Varzim. This man´s family had always been the richest and most important family in the village, so he, known as “Dono da Casa”, was used to being the most powerful man, someone no one dared to cross.

     However, one day, a new and young Father arrived in the village. This man had left his old and luxurious life to live in the poor village. No one had ever really done anything to help the residents of Varzim, but this Father, who used to wear torn clothes, was always giving food and money to sick or elderly people. He didn´t keep anything for himself, giving everything he had to those who needed it more.

     The problem was that this new Father was constantly blaming “Dono da Casa” for the situation of the village, saying that he was a wealthy man who had never done anything to help even one single person. Instead, he kept all his money for himself.

     “Dono da Casa” didn´t know how to respond or argue with the Father because he wasn’t used to such confrontations. He always got what he wanted, so he decided to invite the Bishop to dinner. His plan was to discuss the new Father with the Bishop and ask him to transfer the Father to another village.

     The Bishop accepted the invitation but only because he intended to ask “Dono da Casa” for a large sum of money - 100 “contos” - to fix the roof of a beautiful church. Suddenly, just as the Bishop arrived and greeted “Dono da Casa” in front of his grand house, a car crashed right into the house’s gate. A mysterious man came out of the vehicle. As it started to rain, the man was invited to stay and join the dinner.

     How will the dinner unfold? What will happen in the conversation between “Dono da Casa” and the Bishop?

     I really enjoyed reading this book, even though the moral of the story is a bit hard to understand. It is full of ironic expressions, aiming to critique the society we live in.  Through the thoughts of “Dono da Casa” regarding his conflict with the new Father - “He wasn´t used to fighting, only to asking others to do it for him” – the story shows us how “Dono da Casa” was always trying to convince himself of his superiority. He believed he was too powerful to argue with the Father, when the truth was that he expected others to solve his problems for him simply because he was the richest. He thought his life couldn’t have any problems, which is why he asked the Bishop to dinner - to talk to him so that the man could solve his problem.

     This story is a social critique, exposing the power and egocentrism that most rich people have in their interactions with the poor.

     Sophia de Mello Breyner shows us that literature often seeks to play an interventionist role in society, aiming to improve it.

 

(abridged and adapted)

Maria Leonor Lopes, 9º. C